quarta-feira, 3 de novembro de 2010

UM BOM TEMA PARA DEBATE

Transtornos Alimentares na Adolescência
Atualmente já se descreve o que poderia ser chamado de comportamento de risco para desenvolver um distúrbio alimentar. Em geral, os pacientes bulêmicos ou anoréticos, muito antes da doença estabelecida, já apresentavam alguma alteração emocional e do comportamento. 
Emocionalmente esses pacientes de risco apresentavam alguma crítica constante a alguma parte do corpo, insatisfação com o peso, enfim, alguma alteração na percepção corporal (Dismorfia) com diminuição gradativa de suas atividades sociais. 
Comportamentalmente, apresentavam hábito de fazer dieta mesmo quando o peso estava proporcional à estatura e, mesmo ao perderem peso, continuavam com a dieta (Fisher, 1995).
É importante lembrar que todas essas modalidades de comportamento são de avaliação muito difícil quando se trata de adolescente, visto que nessa faixa etária, o isolamento, os problemas de relacionamento, a preocupação e vergonha com o corpo, a distorção da auto-imagem, aumento do apetite, modismos alimentares, etc., são característicos e esperados, fazendo parte da chamada Síndrome da Adolescência Normal).
Na psiquiatria, diferentemente do que acontece na obstetrícia, onde a pessoa ou está ou não está grávida, podemos encontrar alterações em graus variados. É como se a pessoa pudesse estar muito grávida ou pouco grávida. E assim acontece com as alterações da auto-imagem corporal.
Sabemos que para se desenvolver a Anorexia Nervosa e a Bulimia é necessário que o paciente experimente antes a Dismorfia Corporal. A característica essencial da a Dismorfia Corporal (Transtorno Dismórfico Corporal pela CID.10 e DISM.IV ou, historicamente, Dismorfofobia) é uma preocupação com algum aspecto na aparência, sendo este aspecto obsessivamente imaginado ou, se realmente houver algo presente, a preocupação sobre isso é acentuadamente excessiva e desproporcional. Essa preocupação exagerada causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento sócio-ocupacional.
Mas, como vimos antes, sendo a psiquiatria uma área caracteristicamente pautada em graus de variações em suas alterações, a Dismorfia Corporal pode ser leve, moderada e grave. Para alterações na Conduta Alimentar é necessário que a pessoa tenha uma auto-imagem alterada quantitativamente ou qualitativamente. Pode estar se achando muito gorda, quando na realidade seria apenas “cheinha”, pode estar se vendo apenas gorda, quando na realidade é normal ou até magra, enfim, pode estar se vendo (e sentindo) distante de algum padrão ideal de configuração. 
A psiquiatria - onde não deve ser absolutamente obrigatória a concomitância entre o bem estar emocional e a adequação estética - quer saber se as pessoas podem estar vivendo numa cultura altamente estimulante para o desenvolvimento de transtornos emocionais, numa sociedade que faz crer a todos que o preço da não conformidade aos valores estéticos vigentes é obrigatoriamente a angústia e infelicidade. E até que ponto essa angústia e depressão levariam aos Transtornos da Conduta Alimentar.
O conceito ideal atual a se perseguir incessantemente é ser belo(a), jovem e magro(a). As pessoas em geral, e os adolescentes em particular, costumam crer que modelos, artistas de cinema e de televisão sejam protótipos a serem copiados. A questão estética deixa, assim de ser harmonia e passa a ser imposição. 
Na cultura ocidental atual, o conceito de beleza está associado à juventude, como se o belo fosse, necessariamente, igual a ser jovem. Talvez por isso nossa era vive batendo recordes na cirurgia de rejuvenescimento e no consumo de medicamentos para emagrecer.
A investigação nos Transtornos da Conduta Alimentar tem constituído um foco de atenção em psicologia e psiquiatria nessas três últimas décadas (Toro, 2000). De concreto, temos que as investigações epidemiológicas vêem mostrando um aumento considerável no número de pessoas acometidas de Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa nos últimos anos (Eagles et. al, 1995; Sáiz et al, 1999).

Nenhum comentário:

Postar um comentário