terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O que falta para a educação brasileira melhorar?


Hamilton Werneck
Desde o final da Segunda Grande Guerra, em agosto de 1945, os países desenvolvidos iniciaram um processo de investimentos maciços em educação, embora alguns já tivessem alterado o panorama sombrio em tempos anteriores ao conflito de 1914–1918.

Pressionado pelos mercados mais competitivos, o Brasil iniciou esse processo bastante atrasado, conseguindo ajustar quatro pilares necessários na década de 1990. Quatro partes do processo estão caminhando bem, e resta, apenas, o aprimoramento. Vale dizer que, desde o ex-ministro Paulo Renato até o Ministro Haddad, há projetos em andamento sem sofrerem descontinuidade.

Vejamos: praticamente todas as crianças em idade escolar entre 6 e 14 anos estão nas escolas — Toda criança na escola.
Quem está distante conta com o transporte das secretarias de educação ou com os vales para uso no transporte público — Transporte escolar. Muitos carentes têm na escola a melhor refeição do dia, e a merenda escolar é uma realidade. Praticamente em todas as regiões, esses programas funcionam em parceria com as prefeituras municipais — Alimentação para todos. Já que um bom estudo exige material escolar e livros, também nesse aspecto o Brasil atendeu bastante bem, embora nem todas as escolas consigam os livros escolhidos em primeira opção pelos educadores — Material escolar.
Então, a mente das pessoas elabora uma pergunta importante: o que está faltando para que a Educação deslanche?

Ficam faltando, exatamente, as outras medidas que os países desenvolvidos colocaram em prática e nas quais o Brasil engatinha. Às vezes, engatinha mesmo com programas já
estabelecidos.

O primeiro passo: adequar os programas que se usam nas escolas ao desenvolvimento psicológico das crianças, além de adaptar os mesmos programas à realidade da vida e do
mundo. Atualização e praticidade dos conteúdos.

O segundo passo: melhorar o salário dos educadores e racionalizar a quantidade deles entre atividades-meio e atividades- fim nas secretarias de Educação e escolas das redes.
Há municípios em que os salários são atraentes, porém, na maioria, são desestimulantes. As propostas do Fundeb criam sorrisos nas regiões mais pobres e não encantam nas regiões mais ricas, exceto naquelas onde a administração é um desastre tão grande, pelo excesso de funcionários, que nem uma excelente arrecadação garante um salário melhor.

Vale dizer que, se a relação assistêmica (divisão do total dos alunos pelo total de funcionários da Secretaria de Educação) for menor que ¼, não há milagres que sejam capazes de melhorar o salário dos educadores. Conheço um município em que essa relação é de 1/3,33!

O terceiro passo: promover a formação continuada dos educadores porque, com uma formação apenas secundária, não será possível provocar a transformação que a Educação requer. Portanto, investimentos em formação continuada são necessários em todos os níveis.

O quarto passo: oferecer às crianças tempo integral nas escolas. Assim, elas podem ficar fora das ruas, ter atividades complementares, desenvolver projetos diferenciados daqueles propedêuticos do turno acadêmico, participar da Educação paralela e ter os reforços necessários para assimilar o que não foi possível com as aulas expositivas a que assistiram.

O custo desses quatro pontos poderá sair mais barato se todos aprenderem e nós acabarmos com essa pedagogia de empurrar alunos para a série seguinte sem que eles tenham condições, numa demonstração clara de ser uma pedagogia para pobre continuar pobre! A boa escola ensina, e o aluno aprende. O custo acabará sendo menor porque as séries terão menor quantidade de repetentes, e o retorno social do investimento será mais palpável.

Por onde começar, então? Numa visão cartesiana, deveríamos estabelecer prioridades; numa visão sistêmica, devemos pensar na implementação desses quatro tópicos concomitantemente.

Nós sabemos por onde começar e por onde implementar. Se isso não for feito, os resultados dos exames nacionais continuarão a refletir os mesmos graus de desempenho dos alunos, e a educação não dará o salto que a sociedade requer.

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