sábado, 15 de novembro de 2014

O papel da escola e da família na formação moral

O desenvolvimento da autonomia, do senso crítico, da justiça, de relações mais justas e solidárias é uma das metas encontradas na maioria dos Projetos Pedagógicos das instituições escolares. Apesar disso, estudos mostram que alguns educadores consideram a formação moral uma responsabilidade exclusiva da família. Insatisfeitos, os profissionais alegam que são obrigados a suprir uma “lacuna” familiar, trabalhando valores como o respeito, por exemplo, porque estes “faltam” às crianças e aos jovens. Assim, esses educadores não se sentem implicados ou corresponsáveis com esta formação. O desenvolvimento da moralidade, portanto, não é visto pelos professores como sendo uma tarefa da escola.

Precisamos refletir que, em nossa sociedade, existem duas instituições formalmente responsáveis pela educação do ser humano: a família e a escola, que têm caráter diferenciado, bem como funções e objetivos distintos. A educação informal, no sentido de não sistematizada ou não intencional, começa desde que o indivíduo nasce e, aos poucos, se relaciona com as pessoas que convive em casa e na comunidade. É no espaço familiar que acontece a socialização primária, ou seja, a criança aprende atitudes fundamentais que, gradualmente, a faz diferenciar o certo do errado, de acordo com a comunidade na qual está inserida. Neste espaço também se dá o aprendizado para a vida privada, em que as relações são assimétricas, isto é, os pais têm mais autoridade e poder que os filhos. Assim, os papéis se conservam, ou seja, a mãe nunca deixará de ser a mãe e pai e filho idem, mesmo que o filho brigue ou desobedeça, o que não ocorre na escola, na qual a manutenção das relações depende muito das ações de cada um.

Além da família, a criança interage com outros ambientes e instituições, principalmente com a escola, que promove a educação para outro espaço social: o público. Ao ingressar na escola, a criança, que ocupa lugar privilegiado no seio familiar, torna-se “igual aos demais”, dando início a uma nova aprendizagem e fazendo a passagem da vida privada para a pública. É nessa instituição, formalmente responsável pela educação em nossa sociedade, que a criança experimenta a igualdade e aprende a lidar com a diversidade. Inicia-se então, a socialização secundária, que consiste no ensino dos conhecimentos e na aprendizagem dos valores sociais. É na escola que o aluno tem a oportunidade de aprender a viver em uma sociedade democrática que envolve o reconhecimento do outro e a busca por coordenar perspectivas distintas, administrar conflitos de forma justa e, por meio do diálogo, estabelecer relações e perceber a necessidade das regras para se viver bem. O fato de a escola e de a família possuírem papéis complementares não significa que se houver falha na primeira socialização, a segunda não terá êxito.
Pesquisas indicam que muitos professores consideram a família como principal causa dos problemas tanto de aprendizagem como de comportamento. Alegam que as crianças têm baixo rendimento ou são indisciplinadas porque vêm de lares “desestruturados” e que os pais não “transmitem mais valores”, não “colocam limites” ou “nunca têm tempo”. Poucos educadores citam as questões pedagógicas ou a qualidade das relações interpessoais na escola como fonte dos problemas. Dessa forma, não há o que mudar, pois as causas são externas à instituição escolar. Esses dados mostram que a escola se isenta de uma revisão interna, já que o problema é quase sempre deslocado para fora de seu domínio. Não se pode pensar na estruturação escolar separadamente da familiar, contudo, é preciso modificar a crença na impotência da escola perante a família.

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